Muitas vezes as pessoas procuram a Mediação de Conflitos com a reclamação de não serem ouvidas, principalmente no caso de dissídio estabelecido entre familiares. É a mãe ou o pai que não se sentem ouvidos pelo filho (a) ou o inverso; os cônjuges que não conseguem se entender e por ai se segue uma avalanche de desentendimentos.
Quando, com a ajuda do mediador, o reclamante consegue falar sobre os sentimentos e idéias que lhes vão ao íntimo, ele não só é ouvido pela outra parte, como é acolhido pelo ambiente de atenção que se desenvolve durante o processo. A parte que ouve também experimenta uma situação diferente, pois tendo que aguardar a sua vez de falar tem por única opção ouvir e pensar; dialogando consigo mesmo. É impressionante como isso faz toda a diferença! É que normalmente nós não temos o hábito de ouvir as pessoas no sentido de entendê-las; escutamos um pouco, tiramos nossas conclusões e já interrompemos com as nossas próprias considerações dando por terminado o que deveria ser um diálogo. Esse comportamento destruidor é, infelizmente, muito comum nas relações. Quando se busca ajuda no sentido de restabelecer o diálogo percebe-se que transformar a relação é possível e ambas as partes são atendidas e satisfeitas em suas aspirações.
Mas nem sempre quem reclama ser ouvido satisfaz-se com isso; nesse caso a pessoa não quer apenas ser ouvida, ela quer ser atendida. Então é preciso que o diálogo prossiga para que ambas as partes expressem realmente seus pedidos e analisem a possibilidade de chegarem a um consenso. Acontece comumente um fenômeno muito interessante; o reclamante, sem ser interrompido, também ouve a si mesmo e ao textualizar seus pedidos e reclamações ele próprio pode chegar à conclusão que exagerou em seus julgamentos. Isso é muito humano; quando pensamos fixamente num problema acabamos por dar a ele uma extensão muito grande, no entanto, ao externarmos nossas preocupações percebemos que nem era tão complicado assim. Todavia, para o efetivo fim de um conflito é imprescindível que o acordo satisfaça ambas as partes e que seja fruto da realidade, ou seja, daquilo que é possível realizar. Não sendo assim ele se transforma em simples instrumento retardador de brigas reincidentes. Nem sempre as pessoas conseguem sozinhas estabelecer esse nível de entendimento, principalmente porque existe um envolvimento emocional entre as partes, então a presença do mediador é ainda mais decisiva para o êxito da questão.
Através do uso das diversas “ferramentas” da mediação as pessoas são auxiliadas a assumir o poder de resolverem por si só seus problemas. Assim, muitos dissídios familiares podem não ser levados a litígio, mantendo-se em sigilo completo e evitando que a família se exponha junto à sociedade. Então, não vale a pena rever alguns conceitos?
Suely Buriasco