Suely Buriasco
A nova novela da Globo “O Outro Lado do Paraíso” provoca, mais uma vez, a questão da violência contra a mulher. Em apenas uma semana da trama a personagem Clara, vivida pela atriz Bianca Bin, já sofreu do marido Gael, representado por Sérgio Guizé, vários tipos de humilhação, além de um estupro e uma surra com direito a queda da escada. A arte imita a vida real e não só os números de casos registrados são alarmantes quanto os que são camuflados, todos os dias, por mulheres que optam não denunciar seus agressores.
Relacionamento abusivo
Com ou sem violência física é abusivo todo relacionamento onde há humilhação e exploração manifestadas de qualquer forma. Gritos, briga, xingamentos constituem violência moral. Também corresponde a um relacionamento abusivo quando um homem faz questão de desqualificar a sua mulher, de criticá-la no intuito claro de denegri-la de forma privada ou publicamente. É importante observar que a violência pode ser muito sutil, mas condiciona a mulher a se sentir inferior e incapaz. Também é abusivo o relacionamento em que a mulher sofre o controle do parceiro, seja com o nome de ciúmes ou o que for.
Dependência
O que faz muitas mulheres se manterem em relacionamentos abusivos é a dependência emocional e/ou financeira. A autoestima da mulher que sofre algum tipo de violência fica comprometida e ela passa a se sentir incapaz de ser amada ou de amar. Acreditando não ser capaz de viver sem seu parceiro, prefere crer que é uma fase e que ele mudará. Até porque é característica de homens abusivos dizer-se arrependidos e prometer mudar; desculpas e promessas que se repetem continuamente. Muitas dessas mulheres dependem financeiramente de seus parceiros, também nesses casos elas não se sentem capazes de sustentar a si mesmas e aos filhos. O medo das ameaças do agressor é igualmente um obstáculo à denúncia.
Como dizer não à violência doméstica
Julgar essas mulheres como fracas ou “que gostam de apanhar” é mais uma forma de violentá-las. O que elas necessitam é de apoio e conscientização. A informação é de suma importância e a grande eficácia está no trabalho de agir no ponto nefrálgico: a baixa autoestima. A mulher agredida precisa compreender que depende dela a tomada de atitude capaz de colocar um ponto final nessa situação abusiva. Outro erro comum é aceitar o marido novamente em seu lar, as agressões quase sempre pioram. Existem várias formas de denunciar o agressor, podendo até mesmo prestar queixa de forma anônima. O fato é que sempre existe uma maneira de resolver a questão e livrar-se do agressor, o que não é possível é continuar a aceitar desculpas esfarrapadas e maus tratos. Buscar ajuda é imprescindível e urgente.
A novela está longe de mostrar o que acontecerá com a Clara, mas na vida real o que se comprova é que mulheres que se calam escrevem um fim bem triste, até mesmo fatal, para as suas histórias.