*Por Suely Buriasco
A falha na comunicação tem sido responsável pelo desgaste e até pelo fim de muitos relacionamentos. Assim, o processo comunicacional deve ser tratado de forma particularmente atenciosa.
Quando as pessoas envolvidas num conflito, seja ele qual for, conseguem expor de forma clara seus desejos e concepções, têm sempre maiores chances de construir uma história alternativa ou um novo contexto de relação. Mas, para tanto, é preciso inicialmente que cada um saiba exatamente quais os seus reais interesses e isso só é possível através do diálogo interior que compreende a reflexão.
Refletir é uma volta de consciência para si mesmo, para examinar o seu próprio conteúdo por meio da razão e do entendimento do que realmente é importante e, consequentemente, do que pode ser relevado. O próximo passo é saber ouvir a outra pessoa envolvida no impasse de forma a procurar entender também os seus pontos de vista. À partir disso é possível alcançar novas pautas de interação. Afinal, se o processo de construção do conflito tem início na falha comunicacional; é necessário que essa base seja desconstruída para haver o entendimento.
O diálogo interior é um tipo de escuta ativa, isso é, enquanto a pessoa ouve atentamente o outro, sem interrupção ou conclusões prematuras, ela inicia um processo de reflexão íntima no qual conversa consigo mesmo sobre suas convicções e as que lhes são apresentadas pelo outro. Esse proceder permite que cada um discrimine para si as crenças que formam a sua personalidade e o que pensa e acredita que pode ser mudado para incluir a alternativa do outro. É como se a pessoa mentalmente separasse o que pode ser mudado ou não em seu pensamento.
Essa posição de ouvinte ativo na qual, além de esclarecer busca-se compreender, tem grande chances de gerar diferentes visões da situação e, dessa forma, beneficiar o processo de conversação. Pessoas inflexíveis, engessadas em paradigmas arcaicos têm mais dificuldades nos relacionamentos exatamente por não se permitirem analisar pensamentos diferentes dos seus. Perdem grande oportunidade de aprendizado e crescimento interior facultado pela análise de diferentes ideias.
É também através da reflexão que se pode identificar a própria participação na construção do conflito, o que é duplamente saudável, afinal abandona-se o papel degradante de vítima, ao mesmo tempo em que se coloca mais maleável diante da questão. Identificar o que seja de sua responsabilidade é legitimar-se como autor reconhecendo a própria participação nos problemas. A partir disso fica muito mais fácil compreender o outro como ser falível, esforçando-se para restabelecer a harmonia da relação. Trata-se de uma atitude adulta que facilita a busca de resoluções possíveis para o problema. Assim como a construção do conflito tem a colaboração dos envolvidos; sua resolução deve igualmente contar com essa participação.
Assim, o diálogo interior é de grande importância no processo da comunicação sadia e eficaz, além de promover maior amadurecimento de ideias que facilitam muito a vida de cada um. Buscar ouvir com atenção, compreensão e respeito é descomplicar situações; é desfazer desentendimentos, construindo relacionamentos que, apesar das dificuldades; valham à pena.