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Pais devem ser ancoradouros de seus filhos

Suely Buriasco

Tem sido muito noticiado o caso da mãe que deixou a filha de 11 meses na calçada do ex-marido. Visivelmente transtornada no vídeo publicado, a jovem mãe coloca a filha em grande perigo. Tentando reverter a situação da guarda ela quer explicar o inexplicável, alegando que o pai não havia cumprido o acordo de buscar a criança. É muito triste presenciar, mesmo que pelos noticiários, o descaso e, muitas vezes, o perigo que alguns pais submetem seus filhos. É, realmente, chocante quando as pessoas que deveriam proteger e amparar essas crianças são as mesmas que se tornam ameaçadoras.

Sem querer condenar a mãe ou quem quer que seja, acredito que refletir sobre o assunto é de extrema importância, até porque, infelizmente, esse não é um caso isolado. Nos processos de mediação de conflitos com casais presencio comumente a dificuldade que muitos encontram em colocar como prioridade o bem-estar dos filhos. Vale observar que, quase sempre, não se tratam de pessoas ruins ou irresponsáveis, a questão está mesmo na intensão, inconsciente ou não, de magoar um ao outro. São casais que, ao se separarem, desenvolvem um relacionamento ainda mais destrutivo. Dessa forma buscam permanecer na vida do outro, nem que seja para torná-la um tormento, não conseguem sequer imaginar que o ex-cônjuge refaça a própria vida. Pior é que a forma que encontram para isso recai, quase sempre, nos filhos, que são transformados em “ferramentas” para atingir o outro.

Não se trata apenas de perigo físico, muitos pais não percebem o quanto estão prejudicando a saúde mental de seus filhos. Prejuízo esse que se instala no desenvolvimento cognitivo dessas crianças que irão se manifestar de forma imensurável na vida adulta. A alienação parental, situação pela qual os pais ou parentes dos mesmos influenciam o filho a tomar partido e a se colocar contra o outro é, infelizmente, uma realidade muito comum no Brasil, configurando-se crime desde 2010.

O grande problema é a falta de compreensão em relação ao assunto. Muitos pais simplesmente não refletem sobre o quanto os desentendimentos entre eles podem causar danos irreparáveis em seus filhos. Tanto é assim que, quando submetidos ao processo de mediação conseguem ouvir um ao outro e tornar relevante o acordo que beneficia as relações no que tange às necessidades do filho. Assim que conseguem enxergar a situação de forma menos emocional voltam seus esforços em favor da criança.

A neurociência comprova que pessoas envolvidas em fortes emoções perdem o discernimento e agem por impulso. Isso é um alerta para mantermos a mente equilibrada, mesmo diante de um forte impacto emocional. Um segundo de grande fúria pode trazer muita dor para o resto da vida. Sendo pais nossa responsabilidade se amplia, pois o dano se estabelece também na vida dos filhos.

O caso citado acima logo cairá em esquecimento do público, mas a sua repercussão na vida das pessoas envolvidas, principalmente da criança, não podemos dimensionar.

Porém antes de “jogar a primeira pedra” vale avaliar os próprios atos. Afinal, o que podemos e devemos fazer é refletir sobre a forma como estamos influenciando nossas crianças, seja em caso de separação ou não.

Sejamos sinceros conosco mesmos: como pais representamos ancoradouros ou âncoras na vida de nossos filhos?

2019-07-22T20:14:58+00:00
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