* Por Suely Buriasco
Infelizmente, o drama vivido pelo personagem Celeste de Dira Paes; na novela “Fina Estampa” é uma realidade muito comum em nossa sociedade. O capítulo em que Celeste foi agredida violentamente por seu marido Baltazar, personagem de Alexandre Nero, revelou uma história que se repete em vários lares brasileiros, independente de classe social.
A violência doméstica faz inúmeras vítimas, a maioria mulheres e crianças, representando um grave problema social. Muitas “Celestes” acreditam que seus maridos melhorarão com o tempo e vivem relações perigosas que, não raramente, desencadeiam em processos extremamente violentos como o que aconteceu na novela e até mesmo pior.
Sabe-se que o número de mulheres que denunciam está muito aquém da realidade, pois, muitas sofrem caladas uma vida de medo e dor. Os motivos não variam muito, sendo geralmente, dependência econômica e emocional. O caso da Celeste em que se observam os dois tipos de dependência também é muito comum, por isso tanto sofrimento diante da decisão de denunciar o marido agressor.
O que se espera é que esse drama possa provocar reflexões nessas mulheres sobre o tipo de vida que estão levando e o quanto é possível modificá-la. É preciso pensar sobre o porquê de submeter-se a depender de alguém que não tem controle sob seus próprios atos e que representa grande risco tanto para si como para toda a família. Seriam problemas com a auto-estima? Comodismo? Falta de autoconfiança?
Enfim, para iniciar o caminho de descobrir as razões pelas quais, mesmo com o apoio de leis como a Maria da Penha, tantas mulheres ainda aceitam viver dessa forma, é necessário uma boa análise de si mesmo e da situação. Uma coisa é certa, a grande maioria dos homens que violentam as suas mulheres não deixa de fazê-lo com o tempo, ao contrário, aumentam o grau de violência aplicado. Resolver a questão é, pois, de absoluta urgência.
Independente dos laços que unem essas mulheres a seus maridos é preciso que se busque conscientizá-las que toda transformação gera insegurança e sofrimento, nada, entretanto, maior do que elas estão vivendo em seu relacionamento. Na busca de mudar suas vidas existe a possibilidade de superar os entraves, mesmo emocionais, provocados pela separação. Por mais que haja amor e dependência, a separação não mata ninguém, enquanto viver com uma pessoa violenta é sempre um grande risco.
Assistindo a cena de Celeste chegando a casa depois de ter denunciado o marido é possível compreender a sua dor ao olhar para as marcas da agressão, as fotos de família e toda a sua vida desmoronada. Mas, a meu ver, a imagem que se impõem é a da mulher que enfrenta uma escolha com coragem e, mesmo sofrendo, sabe que agiu de forma a preservar a própria dignidade. Isso é engrandecedor!